18 junho 2006

amar Portugal durante um mês

Julgo que é possível compreender este fenómeno de "nacionalismo futebolístico". Compreender, não implica concordar.

Numa análise crua ao nosso país e à sua história, podemos facilmente constatar que actualmente existe uma crise grave nos valores pessoais, onde se inclui a "pátria". Será que amamos menos Portugal do que amaram os nossos antepassados à uns séculos atrás? Quero acreditar que não.

No entanto, é inegável que não existem actualmente simbolos de orgulho nacional. O facto de as pessoas lerem o jornal e apreciarem títulos como "..estudo em Bruxelas revela que Portugal está na cauda dos 25.." ou algo do género "..Banco Europeu considera optimistas as previsões do governo português..", dá-nos a sensação que "lá fora" não dão muito crédito ao nosso país.

Há pior sensação que esta?

Se juntarmos a isto uma atmosfera de "deixa andar e amanhã logo se vê" que se sente à nossa volta, as coisas não melhoram.

Tempos houve, em que as conquistas de Portugal enchiam o nosso povo de orgulho. É impossível não ficar orgulhoso de saber que os Catalães nos admiram por termos tido a força de ter a nossa independência face a Castela. É impossível passar despercebido o facto de termos sido tecnológicamente e cientificamente avançadíssimos face a uma Europa ávida, como o fomos durante os Descobrimentos. Temos de nos sentir especiais quando em pleno século XX, fomos capazes de nos "poupar" a uma guerra que mudou a face do mundo. Pessoalmente (visto tratar-se da minha área de estudo, a engenharia civil) impressionou-me e senti um enorme orgulho em saber que não à muito tempo estivemos na vanguarda mundial de construção de barragens. Pegando em poucos exemplos é possível ver algo em que fomos "os melhores". Um país respeitado é um país amado pelos seus cidadãos.

E hoje?

Não estamos em tempos de conquistas bélica, nem de descobrimentos marítimos. Já não temos um Luis Vaz de Camões nem um Fernando Pessoa. Onde é que as pessoas vão buscar agora o seu orgulho nacional?

Antes de compreender, um pequeno desvio. O futebol. Esse fenómeno do século XX, que em pouco mais de 100 anos se tornou simplesmente em "desporto-rei". Mas desporto é desporto e essa alcunha não passa de um gosto colectivo (no qual me incluo).

Orgulho nacional e futebol. Que ligação? Quando o "rei" do desporto é transformado em "rei" da sociedade, tende a confundir-se as conquistas desportivas, com as conquistas da nação. Cria-se um "amor à Pátria" desmesurado (na minha opinião, explorado a nível comercial).

Durante um mês as pessoas lembram-se de Portugal. Amam-no, estimam-no, sentem-se parte dum mesmo destino. Será que há falta de "mundiais" ou simplesmente falta darmos uns aos outros as razões reais para nos sentirmos orgulhosos da nossa Pátria?

1 Comments:

Blogger Diana Perro Domingues said...

Obrigada por teres ouvido as minhas palavras.. Parabéns! Haja alguém que consegue "decifrar" este mistério, sem elitismos, e com grande objectividade! Boa visão! Continua a escrever assim..

4:07 da tarde  

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